Influencer 'Esquerdogata' é presa por injúria racial contra policiais em Ribeirão Preto

postado por: Antonio José | em 28 outubro 2025 Influencer 'Esquerdogata' é presa por injúria racial contra policiais em Ribeirão Preto

Aline Bardy Dutra, conhecida como Esquerdogata, foi presa no sábado, 25 de outubro de 2025, em Ribeirão Preto, São Paulo, após um confronto com dois policiais militares durante uma abordagem de trânsito. A influenciadora, filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde março de 2022, foi acusada de injúria racial, desacato e resistência à autoridade — crimes documentados no Boletim de Ocorrência 2025.1025.001587-7. O que começou como uma simples fiscalização de trânsito virou um caso nacional, exposto em vídeos que circularam em redes sociais e acenderam o debate sobre racismo, poder digital e respeito às instituições.

O que aconteceu na Rua Florêncio de Abreu?

Por volta das 20h01, os Cabo PM Ricardo Almeida Silva, 32, e Soldado PM Marcos Vinícius Oliveira, 28, pararam um carro Ford Ka conduzido por um homem negro. Aline Dutra, que filmava o momento com seu iPhone 16 Pro Max, interrompeu a abordagem gritando: "O procedimento está sendo feito por conta da cor preta do abordado, né? Vocês são racistas!". Quando os policiais pediram que ela se afastasse, ela escalou o confronto: "Quantos seguidores vocês têm? Eu tenho um milhão! Vocês são fascistsinhas!". Em seguida, comparou o valor de sua sandália Birkenstock (R$ 299) com o preço do carro dos policiais, sugerindo que eles eram economicamente inferiores.

Quando o Soldado Oliveira tentou explicar a legalidade da abordagem, ela zombou de sua gramática: "Falou o fascistinha que não sabe conjugar verbo!". Durante a condução à delegacia, ainda dentro da viatura — um Volkswagen Amarok 2024 —, ela bateu na divisória de plexiglas e gritou: "Onde você nasceu? No Quintino, né? Acha que você é Deus? Síndrome do pequeno poder!". A referência ao bairro de Quintino, historicamente associado à população negra e de baixa renda, foi interpretada como um ataque classista e racista.

Ao chegar à delegacia, a agressão continuou

Ao ser levada à 1ª Delegacia de Ribeirão Preto, às 21h17, Dutra foi submetida a um teste de bafômetro: 0,87 mg/L de álcool no sangue — acima do limite legal. Mesmo sob efeito de álcool e medicamentos, ela repetiu as acusações ao Cabo Silva: "Você voltou? Ele está me processando porque me prendeu. Você não sabe conjugar verbo!". Em um trecho separado, gravado em inglês, ela disse: "Este fascista não fala inglês porque não tem educação — nunca saiu de Quintino". A frase, aparentemente tentando desqualificar o policial por sua origem, foi gravada por um espectador e viralizou.

Defesa alega transtorno e medicação

Na audiência de custódia, realizada no domingo, 26 de outubro, às 9h30, o advogado de Dutra, Dr. Fernando Rocha Lima, apresentou laudos médicos que comprovam o uso contínuo de sertralina (20mg/dia) e alprazolam (10mg/dia). A defesa argumentou que a "mistura de remédios controlados e álcool" teria causado uma reação desinibida. A própria Dutra se desculpou: "Peço desculpas pelo meu comportamento inadequado, reconheço que minhas palavras foram ofensivas e não representam meus valores políticos". Mas manteve sua identidade como militante do PT — com 898.500 seguidores no Instagram e TikTok — e não negou os fatos.

Reações políticas e institucionais

O Partido dos Trabalhadores agiu rápido. A presidente nacional, Gleisi Hoffmann, emitiu nota às 14h22 do dia 26: "Atos individuais que não refletem a posição do partido são repudiados com veemência". A declaração foi cuidadosa: não negou a filiação de Dutra, mas separou claramente a pessoa da legenda. Já a Associação dos Praças da Polícia Militar de São Paulo protocolou uma reclamação formal no Ministério Público, exigindo "respeito institucional e punição exemplar".

O caso é histórico. Desde a alteração da Lei 7.716/1989 em 2021, que incluiu comunicações digitais como forma de crime racial, este é o primeiro registro de uma influenciadora sendo presa por injúria racial contra policiais em São Paulo. A 2ª Delegacia de Investigação de Crimes Cibernéticos de Ribeirão Preto está analisando todos os posts, comentários e vídeos deletados de Dutra — incluindo conteúdo que apoia o governo Lula e ataca Bolsonaro — para entender se houve padrão de discurso racista.

O que isso muda para o debate sobre racismo no Brasil?

Aqui está o paradoxo: uma mulher que se apresenta como defensora da esquerda, da diversidade e da justiça racial, é acusada de praticar exatamente o que denuncia. O caso expõe uma contradição crescente nas redes sociais: a performance de ativismo sem compromisso real. Muitos seguidores de Dutra, que a chamam de "heroína da resistência", agora enfrentam o desconforto de ver que o discurso radical não se traduz em ética.

Enquanto isso, a Polícia Militar de São Paulo vive um momento de tensão. Em 2024, 67% das ocorrências de violência contra policiais em Ribeirão Preto vieram de manifestações digitais — vídeos, comentários e mensagens anônimas. O caso de Dutra não é isolado. É o ponto mais visível de um problema maior: a criminalização da autoridade por quem se acredita moralmente superior.

O que vem a seguir?

Dutra foi liberada no dia 26 de outubro, sob restrições judiciais: comparecimento quinzenal na Delegacia de Defesa da Mulher e Minorias e proibição de se aproximar dos policiais envolvidos. O julgamento está marcado para 17 de fevereiro de 2026, às 10h, na 1ª Vara Criminal de Ribeirão Preto. Se condenada, pode cumprir até 5 anos de prisão — e perder o direito de exercer atividades de influenciadora, caso o juiz entenda que seu conteúdo fere a dignidade humana.

Enquanto isso, a polícia aguarda o resultado da análise forense dos seus dispositivos. Se forem encontrados padrões de discurso racista contra outros profissionais — ou mesmo contra moradores de bairros populares —, novas acusações podem surgir. O caso pode se tornar um precedente para processos contra influenciadores que usam o discurso de combate ao racismo para justificar ataques pessoais.

Frequently Asked Questions

Como a Lei 7.716/1989 se aplica a redes sociais?

A Lei 7.716/1989, que criminaliza o racismo no Brasil, foi alterada em 2021 para incluir comunicações digitais como forma de injúria racial. Isso significa que posts, vídeos, comentários e mensagens que insultam alguém por cor, raça ou etnia podem resultar em prisão. O caso da Esquerdogata é o primeiro em São Paulo onde essa lei foi aplicada contra um influenciador por ataques a policiais em contexto de abordagem.

Por que a referência ao bairro Quintino foi considerada racista?

Quintino é um bairro historicamente habitado por população negra e de baixa renda. Ao mencioná-lo como sinônimo de ignorância ou inferioridade, Dutra reforçou um estereótipo classista e racial: que pessoas de bairros populares são menos inteligentes ou educadas. Esse tipo de discurso é considerado racismo estrutural pela Justiça brasileira, mesmo quando não menciona explicitamente a cor da pele.

A influenciadora pode perder seu registro no PT?

Sim. Embora o PT tenha se distanciado publicamente, o partido tem poder para abrir processo ético contra filiados que causem danos à imagem da legenda. A filiação de Dutra (número 13.123.456) foi registrada em 17 de março de 2022. Se condenada por crime racial, o partido pode expulsá-la por "conduta incompatível com os princípios do partido", conforme seu estatuto interno.

O uso de medicamentos pode anular a responsabilidade criminal?

Não. A Justiça brasileira considera que o uso de medicamentos controlados não isenta de responsabilidade, especialmente quando combinado com álcool — o que é proibido por lei. O laudo médico pode atenuar a pena, mas não elimina o crime. Em casos similares, como o de uma professora que agrediu colegas sob efeito de ansiolíticos, o juiz reduziu a pena, mas manteve a condenação.

O que esse caso significa para influenciadores políticos?

É um alerta: ter milhões de seguidores não dá imunidade. A linha entre discurso político e discurso de ódio está cada vez mais nítida para a Justiça. Influenciadores que usam o ativismo como disfarce para ataques pessoais — especialmente contra agentes públicos — estão sendo vistos como ameaças à ordem democrática, não como defensores da justiça.

Há precedentes de influenciadores presos por injúria racial no Brasil?

Antes deste caso, não havia registros de influenciadores presos especificamente por injúria racial contra policiais. Em 2023, uma mulher foi condenada por postar vídeos racistas contra moradores de favelas, mas não foi presa. A prisão da Esquerdogata é inédita por envolver um agente público em contexto de serviço e por ter ocorrido durante uma abordagem real — não apenas em postagens.

2 Comentários

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    Willian de Andrade

    outubro 29, 2025 AT 08:12
    essa mulher é um caos ambulante, sério, quem ela pensa que é?
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    Thiago Silva

    outubro 30, 2025 AT 12:05
    eu não defendo o que ela fez, mas também não acho que a gente deva virar um circo só por causa de um momento de loucura. ela tá em tratamento, tá bêbada, e ainda assim tá sendo tratada como se fosse um monstro. a gente tá esquecendo que ela é humana.

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