Quando o Leila Pereira, presidente do Sociedade Esportiva Palmeiras, anunciou que faria um voo particular para buscar o atacante Vitor Roque na França, ninguém imaginou que ela levaria junto três jogadores de outros clubes. Mas foi exatamente isso que aconteceu. A decisão, tomada em poucas horas após um telefonema dos presidentes do Cruzeiro Futebol Clube e do Club de Regatas Vasco da Gama, transformou um simples transporte logístico em um gesto político e esportivo sem precedentes no futebol brasileiro.
Um voo que une clubes rivais
A aeronave em questão — um E190-E2, certificado pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) desde agosto de 2025 para operações comerciais — não é um jet privado comum. É um avião que, por sua capacidade e conforto, poderia facilmente transportar uma delegação inteira. Mas Leila Pereira não pensou em transporte apenas para o seu clube. Ela pensou em futebol. E nisso, o que parecia uma ação unilateral virou um ato de cooperação rara.
Além de Vitor Roque, o voo levará Fabrício Bruno, do Cruzeiro, Paulo Henrique, do Vasco, e Luciano Juba, do Esporte Clube Bahia. A solicitação partiu de Pedrinho — o mesmo nome, mas dois homens diferentes —, dono da SAF do Cruzeiro e presidente do Vasco. Ambos, em contato direto com Leila, pediram: "Se puder levar também, nós agradecemos." Ela respondeu: "Claro."
Por que Vitor Roque é essencial — e inegociável
Para o Palmeiras, Vitor Roque não é apenas um artilheiro. É o centro gravitacional da campanha. Com 20 gols em 52 jogos desde seu retorno ao Brasil, o jovem de 20 anos já superou marcas de lendas do clube em ritmo de produtividade. Contratado por 25,5 milhões de euros (R$ 157,3 milhões) do FC Barcelona, ele assinou até 2029 — mas não é isso que assusta os rivais. É a sua consistência. O técnico Abel Ferreira já disse, em privado, que "sem ele, o time perde 40% da sua ameaça".
Apesar disso, o jogador, em coletiva na quinta-feira, 13 de novembro, em Londres, deixou claro: "Se Deus quiser, volto pra Europa." Mas Leila Pereira não se abala. Nem mesmo diante da oferta de 35 milhões de euros de um clube do Oriente Médio — nem da perspectiva de propostas de 50 milhões da Premier League. "Não estamos vendendo. Ele é o nosso futuro. E o nosso presente", afirmou ela, em entrevista exclusiva à TV Palmeiras.
Um gesto que vai além do campo
O futebol brasileiro vive um tempo de desunião. Clubes se isolam, dirigentes se fecham, e o individualismo reina. Mas esse voo — com três jogadores de times rivais a bordo — trouxe um cheiro de outro tempo. Um tempo em que o futebol ainda era feito de relações humanas, não apenas de contratos e direitos de imagem.
O Cruzeiro, que luta por uma vaga no G4, e o Vasco, que busca a Copa Sul-Americana, não escondem o alívio. "Foi um presente. O jogador chega descansado, sem precisar de viagem comercial, sem risco de atraso", disse um dirigente do Cruzeiro, sob anonimato. Já o Bahia, que não tem ligação direta com Leila, recebeu o convite como um favor — e o aceitou. "É um sinal de que, mesmo no meio do caos, ainda existe quem pensa no coletivo", comentou o diretor de futebol do clube baiano.
Logística e cronograma: um calendário apertado
A seleção brasileira enfrenta o Senegal no dia 15 de novembro, às 13h (horário de Brasília), no Emirates Stadium, em Londres. Depois, viaja para Lille, onde enfrenta a Tunísia no dia 18, às 16h30. O voo de Leila Pereira decolará de Lille logo após o fim do jogo — o que significa que Vitor Roque terá, no máximo, 12 horas entre o apito final e o pouso em São Paulo. O Allianz Parque fica a 30 minutos do aeroporto. O treino com Abel Ferreira está marcado para as 10h do dia 19. O jogador chegará por volta das 8h.
"Não é ideal. Mas é possível. Ele não vai dormir muito, mas vai dormir em casa", disse um membro da comissão técnica do Palmeiras. "E isso faz toda a diferença. A gente sabe que ele está cansado. Mas ele sabe que o time precisa dele. E ele vai dar o máximo."
Um novo padrão no futebol brasileiro?
Essa ação não é só generosa — é estratégica. Ao demonstrar que o Palmeiras tem recursos logísticos que poucos clubes têm, Leila Pereira fortalece sua imagem como uma líder inovadora. Mas também cria uma dívida de gratidão. O Cruzeiro e o Vasco, que já tinham dificuldades para garantir a chegada antecipada de seus jogadores, agora têm um aliado poderoso. E isso pode mudar o jogo nos bastidores.
"Isso não é só sobre um avião. É sobre confiança", disse um analista de gestão esportiva da Fundação Getulio Vargas. "Se um clube grande como o Palmeiras mostra que cooperação traz benefícios reais, outros vão copiar. E isso pode ser o começo de uma nova era."
Frequently Asked Questions
Por que Leila Pereira decidiu ajudar jogadores de outros clubes?
Ela viu uma oportunidade de fortalecer relações humanas no futebol, algo raro em um ambiente dominado por interesses individuais. Além disso, o retorno antecipado de Fabrício Bruno e Paulo Henrique beneficia diretamente o Cruzeiro e o Vasco — times que, em momentos decisivos da temporada, podem influenciar o placar do Brasileirão. Um rival enfraquecido pode abrir espaço para o Palmeiras, e uma parceria logística fortalece sua imagem como líder do setor.
Vitor Roque realmente vai jogar contra o Vitória?
Sim. O plano é que ele desembarque em São Paulo por volta das 8h do dia 19 de novembro, com apenas 14 horas antes do jogo. Embora o tempo seja apertado, a comissão técnica do Palmeiras já preparou um protocolo de recuperação e alimentação especial para garantir que ele esteja em condições físicas e mentais para atuar. Ele não treinará em campo na manhã do jogo, mas participará de reuniões táticas e aquecimento leve.
O avião de Leila Pereira é legal para transportar jogadores de outros clubes?
Sim. A aeronave E190-E2 foi certificada pela ANAC em agosto de 2025 para operações comerciais, o que significa que pode transportar passageiros por contrato, não apenas para uso privado. O fato de Leila não cobrar pelos assentos não altera a legalidade — é um gesto de boa-fé, não um serviço comercial. A ANAC não proíbe esse tipo de cooperação entre clubes, desde que não haja troca de valores.
O que isso significa para o futuro das transferências do Vitor Roque?
O Palmeiras sinaliza, com clareza, que não pretende negociar o jogador, mesmo diante de ofertas de até 50 milhões de euros. A ação logística reforça o compromisso do clube com sua permanência. Além disso, ao trazer Vitor de volta em condições ideais, Leila mostra que o clube valoriza o jogador como pessoa — não apenas como ativo. Isso dificulta qualquer tentativa de persuasão por parte de clubes europeus, que precisam não só oferecer dinheiro, mas também um ambiente emocionalmente atrativo.